Tudo pela metade

É gente, a minha saga continua. A Tia Cocó faz por merecer e eu por aguentar o suplício.

Alguém sabe como uma pessoa consegue dizer que limpou os vidros e quando você vai ver, ele está limpo pela metade?? Literalmente pela metade, não limpar uma e deixar outra parte, mas, uma das partes ficar suja, com aquela linha entre a sujeira e a limpeza. Aqui acontece isso.

Na cozinha, o armário branco tem umas cantoneiras bem bonitinhas. Antes do Pedro chegar, elas ficavam enfeitadinhas, com peças em cerâmica que meu marido trouxe de uma fábrica de Guaratinguetá. Uma graça, mas, a gracinha do nosso bebê não permitiu que ficasse por mais tempo do que ele levou pra começar a andar. E eu já havia percebido que o branco estava cinza, e no último andar, estava mais para preto do que cinza chumbo como as outras.

Fora a capacidade de entulhar objetozinhos pequenininhos e inúteizinhos.

Deu pra perceber meu nível de irritação, certo? Pois é...

Eram canetas, lápis de cor de todas as cores, moedinhas, pecinhas, papéizinhos, embalagenzinhas, notinhas, tantos inhos-inhos, que eu já não via mais utilidade para minha tão bonitinha cantoneira.

E eu pedi para ser limpa e organizada, qual não foi minha surpresa ao ouvir a resposta: "Nossa, mas eu limpo toda semana...".

Será que a semana dela tem mais do que 7 dias? Talvez uns 89 dias mais ou menos...

Será que ela sofre de amnésia ou cara-de-pauzice mesmo??

Ou será que ela estava esperando eu limpar????????????

Melhor nem cogitar uma resposta. Já estou nos nervos de novo....

A dona do supermercado

Eu não sei você, mas, eu não gosto mais de ir ao supermercado.

Quer dizer, depende da quantidade de vezes que você é obrigado a ir.

Se é planejado, tudo bem, mesmo planejando as vezes é um saco.

E eu também tenho evitado, porque senão, a gente gasta os tubos, e come até as paredes.

Claro que isso tem a ver com a Tia Cocó.

Eu já avisei não sei quantas vezes, cansei de contar, quando alguma coisa estiver acabando, me avise antes de acabar, não quando a embalagem já for pro lixo e eu tenha q sair feito uma louca até o supermercado porque a santa não pode nem lavar a roupa.

E ela cumpre? Avisa? Lembra?

É aquela coisa, eu seguro, seguro, seguro, mas, chega uma hora em que você tem que ir. Percorro os mesmos corredores, as mesmas prateleiras, os mesmos produtos e continuo perdendo tempo e não tomo vergonha na cara. E quando chego em casa.... Lá vem ela, com aquela carinha toda humildezinha.

- Ah, precisava comprar sabão em pó, hoje eu lavei a última lavada com a última caixa que tinha.

- Mas, eu já não avisei a senhora que é pra me falar isso antes de ir comprar as coisas?? - eu falo já meio torta.

- É, eu esqueço, não tem jeito....

E lá vai eu de novo, pela segunda vez na semana ao supermercado. Mesmos corredores, mesmas prateleiras, mesmos produtos, e eu cumprimentando o segurança, o rapaz que arruma as bancadas de frutas e legumes. Até conheço a moça que organiza o departamento de lingerie. Com a prática adquirida e uma coluna estressada, eu até sugeri mudanças na exposição dos produtos. Como eu iria conseguir olhar a minha marca preferida se ela estava praticamente no chão? Pensei também nase senhoras de idade, poxa!

Volto pra casa achando que dessa vez vai estar tudo certo. Mas, não é só a Tia Cocó responsável pelas minhas idas constantes aos supers, mercados e mercadinhos da região. Minha famíla também colabora, ahhh se colabora. O maridão já tem o discurso preparado.

- Naquelas suas andanças pelos mercados, só quando você for, tá? Traz gelatina, cacau em pó, iogurte, você sabe né, só se der pra você ir, tá? (ele vai me matar, hehe)

Você acha que, meu marido trabalhando o tanto que ele trabalha, vou deixá-lo sem diversão culinária??? Lá vai eu de novo....

Algumas moças que trabalham no caixa devem pensar que, alternativa um: essa daí adora gastar, alternativa dois: essa daí deve alimentar um batalhão ou alternativa três: essa daí não tem o que fazer. Até o tiozinho que faz entregas a domicílio eu cumprimento, vou fazer o que, fica na entrada do supermercado perto de casa.

Pronto, acho que agora não preciso mais. Sei. Bastantão. Tem a minha filha.

- Mãe, tem que ser hoje, o shampoo acabou e se não comprar o condicionador também, não vai combinar, aí as meninas da escola vão tirar sarro de mim e blablablabla.....

O gerente do Extra deve achar que eu sou sócia do Abílio Diniz. Não é possível, quantas vezes por semana, essa mulher vem? A moça da farmácia já me conhece também, e até pergunta das crianças. E o moço que corta os frios? Ele já vem correndo com uma fatia de "dêjo" (queijo) quando ouve um molequinho gritando. Sim, é o Pedro, que já é conhecido pelo moço do setor de frios. E ele ainda diz: "Tá aqui de novo meninão"....

Agora, tem uma coisa que eu nunca fiz. Vou perguntar pro gerente.

Será que se o Pedro cantar a musiquinha do Extra no caixa, eles me dão desconto???? Será???????

O pior é que ele canta. E quando percebe que não estamos indo pro Extra, reclama.

E quando estamos indo embora e vê lá de cima do viaduto o Carrefour, pede: "Fúi mamãe, mâmú!!" (Carrefour mamãe, vamos!!).

Alguém aí precisa de uma pesquisadora de preços eficiente, pontual e simpática?

É hoje!!!!

Acordei decidida, às sete e meia da manhã, hoje eu vou limpar o freezer.
Eu nunca vi isso, alguém que acorde a essa hora com vontade de limpar o freezer? Mulher é tudo louca mesmo, fiquei imaginando, acho que estou na tpm, só pode ser...
Mas, eu acordei. E fui limpar.

Tudo bem que, a geladeira é um pouco grande, tipo, maior do que eu que já tenho meus 1,85 metro de altura, então, a briga ia ser feia.
E grande.
Comecei a tirar tudo que estava dentro dele. O que estava na frente era reconhecível, agora, o que eu fui encontrando no meio, foi me surpreendendo. Como eu ia fazer pra tudo descongelar rápido? Liguei o Tufão, nosso ventilador que muito se parece com uma turbina de avião, e não contente com ele, liguei um grudadinho no freezer menorzinho, mas, muito bom. E o gelo começou a pingar! Êêêê! Deu certo!!

O vento batia, descongelava o gelo e eu ia tirando tudo da frente, claro que não escapei das raspadas com a faquinha sem ponta, porque eu não ia aguentar tudo aquilo descongelar sozinho. Aí quando faltava só um pequeno iceberg no canto esquerdo, a coisa complicou, porque nem com o Tufão o troço descongelava.
Mas, não desisti, e tirei a pedra colada com a grade da geladeira, mais dois potinhos de plástico, mais duas linguiças calabresa e um pacote de mini-esfihas congeladas.

Eu fiquei revoltada, porque não daria pra salvar praticamente nada dali.
Mas, eu matei a saudade... Matei a saudade do meu tuppeware verdinho, mais alto, que eu já tinha dado como perdido, no reino perdido dos plásticos onde Tia Cocó adora perder meus potinhos.

Pra não acordar com esses desejos estranhos, amanhã vou acordar ao meio-dia e aguardar as novidades domésticas do dia.
Acho melhor nem sair da cama, viu...

É feio????

Hoje voltei aos meus afazeres.
Acordar, acordar as crianças, ler meus e-mails, responder os scraps no Orkut, mandar o e-mail de bom dia pro meu marido, ir ao banheiro, trocar o Pedro, ameaçar a Júlia mais uma vez pra que ela estude pra prova que vai ter na escola.... Essas coisas básicas...

Uma semana de molho deixa a gente tão mal acostumada... Culpa do meu marido, e nem vou ficar fazendo muita propaganda aqui, senão atiça a concorrência... rs
Mas, ele foi nota mil, não sei o que seria de mim e do meu nervo ciático....
Ele cuidou das crianças tão bem quanto eu, deu almoço, banho, brincou, trocou pra ir pra escola, levou pra escola, fez supermercado, tudo isso comigo deitada no quarto sendo servida por ele também...

Olha.... Hoje foi difícil voltar, mas, eu voltei....
Nem sempre a gente volta no pique total, às vezes tem um ou outro probleminha a mais pra resolver, umas contas a mais pra pagar, mas, "vãmo-que-vãmo".
E uma das tarefas de hoje, era arrumar o barulho de batida que tava na frente do carro, eu já tinha dado meu diagnóstico, era amortecedor ou mola, ou, os dois juntos, eu tinha certeza, e mecânico nenhum iria me enrolar com a rebimboca da parafuseta.

Após a maratona da manhã com os pimpolhos, deixei-os nas respectivas escolas e fui pro mecânico.
Essas lojas que tem em shopping, não, não é tão caro, é praticamente o mesmo preço que o mecânico perto de casa, só que, eles arrumariam na hora pra mim, e lá fui eu...
Deixei o carro, e diagnóstico confirmado (amortecedores e mola, fora o escapamento que eu esqueci de comentar) e a facada básica no orçamento, o que eu iria fazer nas próximas duas horas???? O rapaz da loja todo solícito, deu a idéia.... Cinema.... Nem pensei duas vezes....
A última vez que eu tinha ido foi pra ver A Era do Gelo 3, e ainda tive que sair nos primeiros 40 minutos de filme porque o Pedro ficou com medo da gritaria que a mamãe dinossauro fez....

Corri porque com certeza a sessão já iria começar, comprei uns pãezinhos de queijo e corri pro cinema, assisti Os Normais 2, detalhe.... Sozinha. Sim, eu fui e estava sozinha, mas, a sessão foi todinha pra mim!
Eu entrei e não acreditei, aquela sala enoooorme, aquela cadeira que parece uma poltrona, aquele som estereofônico digital sorround sound blaster master super hiper tudo pra mim????
Sem criança gritando? Sem telefone ou campainha tocando? Sem empregada com cara de "eu trabalho demais"????

Aí, bateu aquela bobeira ou que seja, peso na consciência... Será que era feio eu estar naquele cinema, plena segunda-feira, com um pacote de pães de queijo, da Casa do Pão de Queijo, uma coca Zero, e os Normais todinhos pra mim????? Liguei pro meu marido...
- Oi, sou eu, tudo bem?
- Tudo, fala...
-  É feio eu ir ao cinema enquanto o carro tá arrumando??
- Ahn? O que?
- É feio eu ir ao cinema enquanto o carro tá arrumando?????
- Magina, larga de ser boba, vá e divirta-se!!! E deixa eu desligar que tô indo pra uma reunião,...  Beijo, te amo...
- Beijo, eu também...

E me acabei de rir naquela uma hora e quarenta minutos só pra mim.
E não foi nada feio. Risos.
Quer saber?? Vou fazer mais isso. Vou sim.

O Rato e a Batata

Sinceramente eu não sei como as pessoas podem ser tão cara-de-pau em algumas situações. Semana passada eu estive de cama, nervo ciático abalado, completamente abalado. Fui limpar o quintal da minha casa, um canto onde tinham algumas caixas de papelão, que ficavam no caminho do tanque, e com a água que escorria, os fundos ficaram molhados, podres e cheiravam mal.



Não entendo como a empregada não via e não sentia.

Eu fiquei tão nervosa, que já fui pegando uma, duas caixas, ficando cada vez mais de saco cheio, pega daqui, de lá, peço pro marido pegar o rodo, daqui que eu vou limpar, passa uma, duas, tres vezes e créu. Lá se foi minha coluna.


Uma semana de cama, remédios básicos a base de morfina, marido de licença no trabalho e de dona de casa em casa.
E eu sentindo aquele cheiro horroroso na cozinha...

Como eu estava andando pendendo pro lado direito, não tinha nem como querer encontrar o tal aroma, achava eu, na minha inocência de moribunda, que a Tia Cocó (apelido carinhoso que meu marido colocou na senhora que trabalha em casa) iria encontrar e dar jeito na brisa fétida.

Hoje, ao acordar, cumprimentei-a, e ela começou o diálogo surreal:
- É, eu acho que entrou rato aqui...
- Aqui? Como assim? A senhora viu?? - eu perguntei.
- Não, é que quando eu entrei aqui, eu senti o cheiro do rato...
- Ahn?? Cheiro do rato, que nojo tia Cocó, como assim?? - eu perguntei já quase passando mal, minha casa com cheiro de rato, tenha dó...
- É sim, tenho certeza, porque quando eu entro na casa da minha irmã, é um fedô de rato, e aqui tava do mesmo jeito...
- Ah, eu acho que não, não é possível, a Bella fica o tempo inteiro aqui, mas, fazer o que... - eu respondi já meio p da vida e cortando o assunto...


Cheiro de rato, vou te contar viu... E eu fui fazer o almoço, mas, o que ainda me incomodava muito era o cheiro da batata podre... Como já estou quase 100%, resolvi dar uma olhada no que estava acontecendo.

Olho na mesinha que fica ao lado da pia, algumas frutas, cebolas, e um pão embolorado, tá, já era um começo, mas ainda não era meu alvo. E fui olhar na fruteira ao lado da geladeira, primeiro andar, tudo bem, segundo andar, eu já meio inclinada, encontro apenas coisas fora do lugar, até aí tudo bem, pq parece que nesses momentos só eu enxergo isso, chega...


Terceiro andar e eu mais inclinada ainda, e.... Bingo... Um saco de supermercado com umas seis batatas, podres, fermentando, horrendas, literalmente fedendo... Chamei tia Cocó e mostrei, e ela com aquela voz sofrida de quem tem tanta coisa pra fazer:


- Nossa, era aí que tava então...
- Eu falei pra senhora que eu tava sentindo fedô de batata podre, só que, eu não conseguia procurar... - eu falei já meio invocada.
- Ah, é, eu vou tirar daí então...


Precisou eu tirar as caixas do fundo que desmanchavam, as batatas podres da cozinha, pq ela simplesmente não vê, ou finge q não vê... Ah gente, tenha dó...
Tô falando... Ainda arranco o zóio da empregada...



obs.: Bella é a gatinha que temos em casa..